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Murais com memórias da cidade combatem degradação urbana em Olhão [com fotos]

Aug 23, 2023Aug 23, 2023

As memórias de outros tempos espalham-se pelas paredes dos edifícios e não deixam ninguém indiferente. Para alguns, ver os murais que estão a ser pintados no Largo e na Rua da Fábrica Velha, no limite do Bairro do Levante, em Olhão, é um verdadeiro regresso ao passado ou até a momentos que viveram. Para outros, como os muitos turistas que a cidade acolhe por estes dias, é uma oportunidade para conhecer o Olhão de antigamente, através de arte urbana, com o selo de artistas algarvios.

Os graffiti writers Pedro “Mistik”, “Gnose” e “Kaset”, da Associação Artística Satori, e “Dgiphi”, seu convidado, estão desde há semanas a transformar a zona envolvente do largo da Fábrica Velha, um trabalho encomendado pela Câmara de Olhão.

O largo em si foi recentemente alvo de uma intervenção, no âmbito do projeto «Caminho das Lendas», que passou pela criação de uma zona pedonal e a colocação de uma estátua alusiva à lenda de Marim.

Mas, mesmo ali ao lado, edifícios que antigamente albergaram fábricas iam ficando cada vez mais degradados. «O grande objetivo deste projeto é embelezar a zona contígua ao Caminho das Lendas. A criação destes murais foi a forma que encontrámos de qualificar esta zona até agora degradada», explicou aoSul InformaçãoAntónio Pina, presidente da Câmara de Olhão.

Com esta intenção em mente, a autarquia olhanense foi à procura de um parceiro, que encontrou na associação Satori. «Fizemos um protocolo com a associação, que tem muita experiência nesta área, e obtivemos o acordo dos proprietários dos edifícios. Ao mesmo tempo fomos buscar as memórias da cidade, da indústria conserveira e da pesca», contou António Pina.

Criadas as condições, os artistas chegaram com latas de spray, rolos e muita tinta, para colocar nas paredes as memórias que estão guardadas em fotos do Arquivo Municipal de Olhão. Isto leva a que estes graffitis sejam autênticos documentos históricos.

«Um dia chegou aqui uma senhora idosa e disse: olha, aquela sou eu! Houve outra senhora que também veio ter comigo a pedir para tirar uma fotografia com ela, porque está aqui a sua mãe e ela tem a fotografia original em casa», contou Pedro “Mistik”, apontando para o mural em que ainda está a trabalhar, em conjunto com Gnose, mas que já ocupa a quase totalidade da fachada virada a poente da antiga fábrica da Conserveira do Sul.

Nesta pintura, é representada uma imagem da vida na fábrica, com mulheres e homens a trabalhar. Noutras, são barcos de pesca de velas ao vento, os pescadores a tratar das redes ou o bulício de uma rua na então zona industrial de Olhão.

Imagens que, para muitos habitantes de Olhão, particularmente desta zona mais antiga da cidade, são familiares. Talvez por isso, revelou o writer algarvio, a reação da parte da população tem sido a melhor.

«Isto é um orgulho para Olhão. A maioria das pessoas não olha para isto como um graffiti, dizem que é uma obra de arte. Eu tento explicar, mas para as pessoas o graffiti é outra coisa», disse o artista que, à semelhança de Gnose e Kaset, é de Quarteira.

Também há muitos transeuntes que param para apreciar o trabalho dos quatro artistas e aproveitam para fotografar.

Já concluído está o mural que ocupa a fachada de outro edifício, que retrata saveiros de velas lançadas, no mar. Este graffiti foi pintado por “Dgiphi”, writer de Albufeira que foi convidado pela Satori a juntar-se ao projeto.

À semelhança de “Mistik”, que anda «nas latas» há 13 anos, “Dgiphi” já se dedica praticamente em exclusivo à atividade de artista urbano, fazendo trabalhos como que está a desenvolver em Olhão, mas também outros, «como restaurantes, bares e quartos».

«Apesar de pintar coisas assim, às claras e legalmente, também gosto de pintar “fora”. É disso que nós também gostamos», confessou.

«Deram-me um conjunto de fotografias e eu escolhi as que gostei mais, para as pintar aqui. Mas isso não quer dizer que sejam um decalque. Algumas coisas sou eu que acrescento e também jogo com as cores e com as sombras. Temos de colocar um bocado de nós, senão era uma autêntica fotocópia e não tinha piada», disse “Dgiphi”.